sábado, 22 de outubro de 2011

“A Mostra vai mostrar ao Brasil onde está a ausência dos Direitos Humanos”, aponta a Diretora Técnica da Cinemateca Brasileira

Éder Rodrigues

A cineasta Olga Futemma é a diretora Técnica da Cinemateca Brasileira. Estudou na USP na década de 70. Ela lembra que a Cinemateca sempre foi e continua sendo um centro de referência para esta e para a geração que estudou cinema naquela época. Na referida década, mesmo passando por dificuldades financeiras, a Cinemateca mantinha-se viva. Hoje, com pessoal técnico especializado, tem conseguido recursos em editais e outras formas de fomento para ampliação de seu acervo.

A programação de exibição mensal é intensa. A Cinemateca Brasileira possui o maior acervo de imagens em movimento da América Latina. Ele é formado por cerca de 200 mil rolos de filmes, que correspondem a 30 mil títulos. São obras de ficção, documentários, cinejornais, filmes publicitários e registros familiares, nacionais e estrangeiros, produzidos desde 1895.

O acervo da Biblioteca é formado por aproximadamente 4.700 livros, 130 pesquisas acadêmicas, 2 mil catálogos, 2 mil folhetos e 1.200 pastas que reúnem diversos documentos, como certificados de censura, convites, press-releases e papers. Há também uma coleção com cerca de três mil roteiros. Confira a entrevista realizada neste mês de setembro na Cinemateca, durante a reunião de produtores da 6ª Mostra de Cinema de Direitos Humanos que ocorrerá do dia 29 de outubro a 03 de novembro no SESC/RR.

Quando começou sua experiência com a Cinemateca?
A geração que estudou na USP na década de 70 sempre teve a Cinemateca como referência. Cheguei em 84, quando a Cinemateca foi incorporada pelo Instituto Brasileiro de Patrimônio Histórico. Quando a Cinemateca passou para a esfera federal então fui contratada. Tenho mais ou menos a mesma idade da Cinemateca (risos).

A senhora atua em que unidade?
No Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira. Este centro engloba quatro setores: a Biblioteca, os arquivos pessoas e institucionais, a área de pesquisa e área fotográfica.

Quanto a Biblioteca, como a Cinemateca tem avançado na aquisição de títulos?
Depois de muito tempo, desde a década de 50, a Biblioteca da Cinemateca tradicionalmente vivia de doação não havia uma dotação específica para aquisição de livros e periódicos. Isso mudou há seis anos. A gestão do Carlos Magalhães (diretor executivo da Cinemateca) deu este impulso, esta visibilidade e trouxe à tona necessidade de uma atualização muito forte do nosso acervo bibliográfico. Felizmente temos conseguido o apoio, por exemplo, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e temos participado de editais para adquirir livros, ampliando o acervo neste sentido.

Qual a sua expectativa em relação a 6ª Mostra de Direitos Humanos?
Este avanço do evento, chegando nas 27 capitais do País realmente dá a Mostra um caráter inédito. É de uma singularidade muito forte. E não é por estar nas 27 capitais apenas, apesar de ter uma importância simbólica extraordinária, mas sobretudo, pelo tema que a Mostra propõe. Os direitos humanos precisam estar na pauta do dia, na nossa consciência. Ter uma Mostra desta grandeza que abre a possiblidade de reunir pensamentos a cerca deste tema, debatê-lo, perceber onde está o sofrimento e a ausência da prática dos direitos humanos no Brasil, tem um caráter formador espetacular. É uma chance de aprimoramento de todos como seres humanos e profissionais e como sociedade.

Fazendo uma alusão aos estados do Norte do País, que estão buscando mais espaços para exibição e fruição da produção e sabendo que a Cinemateca mantém viva a memória audiovisual do País inteiro, o que a senhora tem a dizer especificamente para os realizadores e produtores da Amazônia como um todo quanto à realização da Mostra?
Antes mais nada: sejam bem vindos! Parabéns por esta disposição na adesão e na coesão em torno da Mostra. Sair do eixo Rio e São Paulo é importante. Mas na prática a gente sabe que é difícil. Tanto a produção, quanto a distribuição em algumas regiões vão se capitulando no Brasil. Mas como é que se quebra isso? Como é que se inaugura uma fase de coesão? Só fazendo! Só fazendo! Assim como a Memória, na qual a gente se pergunta: o que vai sobreviver? Sobreviverá aquilo que as forças sociais disserem que é para sobreviver! Então tanto as forças e movimentos sociais precisam se mobilizar e entrar nestes programas e projetos de coesão e de aprimoramento intelectual, pessoal e profissional que estão sendo promovidos nestas mostras de âmbito nacional e internacional.

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